Eles são três ratos espertos, aventureiros como eles só. Três ratos cegos, mas que enxergam além, muito mais que as intenções e artimanhas dos que pensam serem inteligentes. Esse três ratos de Chantilly (que nada têm a ver com a cobertura de bolos deliciosos, é apenas uma cidade francesa), têm muitas lições a nos ensinar.
Mas não é só isso. Também é pela reflexão que essa história nos provoca que esse livro me conquistou (e, ao que parece, à muita gente, afinal, ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura em 2015), mas é preciso olhar para ele com os olhos dos ratos personagens. Vendo além. O livro nos encanta pelas belíssimas ilustrações, que conversam com a gente com força e delicadeza, pelo projeto gráfico equilibrado, que nos convida a virar as páginas em busca da continuação da história. E pra quem pensa que planejar a virada de uma página de um livro é coisa simples, eu digo que, nem sempre: é como novela, se o “gancho” para o que vem a seguir não for suficientemente envolvente, a gente não segue a história. E também não volta para ela.
Os diálogos bem construídos e a força dos personagens com certeza são um dos responsáveis pelo nosso encantamento. Esses ratos e a coruja “esperta” são tão nossos conhecidos que eu duvido que o leitor não lembre de uma ou mais pessoas que são a cara deles! Eles estão no mundo e essa é uma das graças da história.
É claro que tudo isso se deve ainda ao caráter universal do enredo, que, como explicita o autor, foi adaptado livremente de um conto de tradição oral anônimo intitulado “Os três cegos de Compiègne”. Contos de tradição oral sempre no revelam coisas importantes sobre nós mesmo e o mundo em que vivemos. Daí, no final, os editores nos chamarem atenção para outras histórias com “três” personagens, sem as quais não viveríamos: Os Três Porquinhos, Os Três Mosqueteiros, Os Três Ursos. E é aí que reside o arremate final do porquê esse livro nos convida à leitura: escolher textos que nos remetam ao que necessitamos também é decisivo para a nossa formação leitora. Precisamos de pessoas que apostem neles e nos lembrem do quanto são necessários.
É por essas e outras razões que OS TRÊS RATOS DE CHANTILLY é daqueles livros que a gente quer ler de novo, e pra sempre.